Finalmente conheci outra amiga: a Gabriela. A minha mamã contou-me assim uma história:
Era uma vez duas meninas que viviam longe, longe, dentro das mesmas fronteiras. Já sabiam falar quando se conheceram (nada parecido comigo e a Gabriela) e tiveram grandes, longas, compridas, enormes conversas e parecia que se conheciam desde sempre e para sempre. O tempo mudava de cor com estas conversas, ficava azul, amarelo, vermelho, às vezes cinzento escuro, às vezes de um branco cheio de luz.
Já tentei perceber o que falavam elas, mas a mamã diz que é complicado, que nem se lembra bem, mas tinha muitas cores e cada palavra saía com novas cores. A pintura devia ser meio confusa, meio bonita.
Como o tempo não é feito de papel, foi perdendo os desenhos daquelas conversas, mas elas tinham-nas e guardavam-nas - pareciam aguarelas, pinturas a óleo, a lápis de cera, no fundo de gavetas especiais.
Quando as gavetas já não tinham espaço para mais desenhos a apagarem-se com o tempo, elas souberam que iam ver-se de novo - ia haver tempo e espaço. As cores voltaram a pintar, nem parecia que o tempo se tinha estendido tanto, foi só repor as palavras e os quadros já estavam nítidos e delineados de novo, com os mesmos pincéis de sempre - os que cada menina trazia para aquela amizade.
Assim foi: a Marta e a Joana partilharam namoros, desamores, cidades e aldeias, estudos, casas e ruas, alegrias e tristezas, famílias e amigos, desavenças e danças. E depois viemos nós: a Ema e a Gabriela. Partilhar a maternidade faz-se assim. Às cores e com os pincéis que temos à mão. Passinho a Passinho, sem esquecer a caminhada, que esperemos nos leve muito longe.
Sem comentários:
Enviar um comentário